quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

FTU unindo e dando voz às religiões afro-brasileiras



Na última publicação discorremos sobre as Escolas Afro-brasileiras e duas delas, em especial, cujos conteúdos rituais e simbólicos possibilitam o trânsito religioso entre a Umbanda (ênfase na louvação dos ancestrais) e o Culto de Nação Africano (Candomblé, ênfase na louvação dos Orixás). Explicamos e situamos também a importância da Faculdade de Teologia Umbandista nesse contexto, pois um de seus objetivos é a valorização de todos os rituais existentes dentro do universo denominado de religiões afro-brasileiras.

A Teologia é o senso crítico da religião e pensamos que a mesma possui dois braços, um que se volta para atender o viés acadêmico e o outro, o viés religioso. No primeiro, estão as discussões específicas e científicas sobre a teologia, a cosmologia e cosmogonia das divindades, os processos históricos-culturais, a contextualização dessas religiões em solo brasileiro, entre tantas outras. No segundo, no viés religioso, a religião é vista como um caminho, um conjunto de ideias e práticas que são aceitas como eficazes, importantes para justificar a existência. Além disso, a religião interessa-se por tornar a existência “mais fácil” proporcionando aos adeptos bem estar e conforto físico e espiritual. Nossa teologia, portanto, interfaceia com esses dois braços: o acadêmico e o religioso.

Voltamos a esta discussão porque em uma de nossas leituras lemos uma frase de Roberto Motta, antropólogo e pesquisador dos Xangôs de Recife, que dizia que os sacerdotes do candomblé e de outras religiões afro-brasileiras buscavam sua teologia nos estudos antropológicos. Ao mesmo tempo, sentimo-nos muito felizes por termos proporcionado a todas as Escolas Afro-brasileiras um espaço legítimo de discussão teológica, ou seja, hoje em dia os pais e mães de santo, adeptos e simpatizantes podem recorrer à FTU para dialogarem, conversarem, criarem laços e, sobretudo, discutir (produzir) sua teologia de forma clara e transparente. A FTU é um local de discussão e sua teologia foi tão bem estruturada que vários dos acadêmicos( Cientistas Sociais, Historiadores, Cientistas Políticos, Teólogos Cristãos e Cientistas da Religião) passaram a frequentar nossos eventos e tornaram-se grandes amigos. Apenas para citar alguns deles, Prof. Dr. Luiz Assunção, Prof. Dr. Reginaldo Prandi, Prof. Dr. Sergio Ferretti, Profa Dra. Mundicarmo Ferretti, Prof. Dr. Volney Berkenbrock, Prof. Dra. Irene Dias e tantos outros! Hoje temos uma teologia das religiões afro-brasileiras que dialoga abertamente com vários setores acadêmicos, com a antropologia, sociologia e outras teologias confessionais.

Na verdade, a criação e o histórico da FTU dariam várias laudas, talvez um grande livro! Para resumir tivemos dois grandes momentos de trabalho na instituição, o primeiro grupo que auxiliou a pensar e construir a ideia da FTU. Este, ainda que tenha dispendido esforços, não conseguiu levar avante a tarefa nem concretizar a proposta perante os órgãos superiores, no caso o MEC. Já o segundo, felizmente, composto por uma verdadeira equipe de trabalho, atuante, engajada, militante, fez valer sua força e conquistou em sua última avaliação do MEC a nota 4 (sendo a nota máxima 5!). Isso muito nos honra, pois toda a equipe é formada por nossos filhos e filhas espirituais. Recentemente, uma notícia correu nas redes sociais sobre as várias faculdades que não obtiveram a nota mínima para funcionamento, dentre elas várias bastante reconhecidas no mercado educacional. Esperamos que, em breve, tais universidades possam reestabelecer suas produções científicas de qualidade. Mas não podemos negar que, mediante essas notícias, ficamos ainda mais felizes, honrados e convictos com nossa instituição, com nosso trabalho, na certeza de nos empenharmos ao máximo para ofertar ao povo de santo uma educação de qualidade e uma teologia, antes inexistente. Afinal de contas, esse processo que a teologia afro-brasileira passa, beneficia as próprias religiões afro-brasileiras pelo fato de estarem contextualizadas sob duplo aspecto: em isonomia com as demais confessionalidades e respeito incondicional à diversidade do povo de santo.

Axé!

Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá 
Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico

Publicado: quinta-feira, 10 de janeiro de 2013