
A Teologia é o
senso crítico da religião e pensamos que a mesma possui dois braços, um que se
volta para atender o viés acadêmico e o outro, o viés religioso. No primeiro,
estão as discussões específicas e científicas sobre a teologia, a cosmologia e
cosmogonia das divindades, os processos históricos-culturais, a
contextualização dessas religiões em solo brasileiro, entre tantas outras. No
segundo, no viés religioso, a religião é vista como um caminho, um conjunto de
ideias e práticas que são aceitas como eficazes, importantes para justificar a
existência. Além disso, a religião interessa-se por tornar a existência “mais
fácil” proporcionando aos adeptos bem estar e conforto físico e espiritual.
Nossa teologia, portanto, interfaceia com esses dois braços: o acadêmico e o
religioso.
Voltamos a esta
discussão porque em uma de nossas leituras lemos uma frase de Roberto Motta,
antropólogo e pesquisador dos Xangôs de Recife, que dizia que os sacerdotes do
candomblé e de outras religiões afro-brasileiras buscavam sua teologia nos
estudos antropológicos. Ao mesmo tempo, sentimo-nos muito felizes por termos
proporcionado a todas as Escolas Afro-brasileiras um espaço legítimo de
discussão teológica, ou seja, hoje em dia os pais e mães de santo, adeptos e simpatizantes
podem recorrer à FTU para dialogarem, conversarem, criarem laços e, sobretudo,
discutir (produzir) sua teologia de forma clara e transparente. A FTU é um
local de discussão e sua teologia foi tão bem estruturada que vários dos
acadêmicos( Cientistas Sociais, Historiadores, Cientistas Políticos, Teólogos
Cristãos e Cientistas da Religião) passaram a frequentar nossos eventos e
tornaram-se grandes amigos. Apenas para citar alguns deles, Prof. Dr. Luiz
Assunção, Prof. Dr. Reginaldo Prandi, Prof. Dr. Sergio Ferretti, Profa Dra.
Mundicarmo Ferretti, Prof. Dr. Volney Berkenbrock, Prof. Dra. Irene Dias e
tantos outros! Hoje temos uma teologia das religiões afro-brasileiras que
dialoga abertamente com vários setores acadêmicos, com a antropologia, sociologia
e outras teologias confessionais.
Na verdade, a
criação e o histórico da FTU dariam várias laudas, talvez um grande livro! Para
resumir tivemos dois grandes momentos de trabalho na instituição, o primeiro
grupo que auxiliou a pensar e construir a ideia da FTU. Este, ainda que tenha
dispendido esforços, não conseguiu levar avante a tarefa nem concretizar a
proposta perante os órgãos superiores, no caso o MEC. Já o segundo, felizmente,
composto por uma verdadeira equipe de trabalho, atuante, engajada, militante,
fez valer sua força e conquistou em sua última avaliação do MEC a nota 4 (sendo
a nota máxima 5!). Isso muito nos honra, pois toda a equipe é formada por
nossos filhos e filhas espirituais. Recentemente, uma notícia correu nas redes
sociais sobre as várias faculdades que não obtiveram a nota mínima para
funcionamento, dentre elas várias bastante reconhecidas no mercado educacional.
Esperamos que, em breve, tais universidades possam reestabelecer suas produções
científicas de qualidade. Mas não podemos negar que, mediante essas notícias,
ficamos ainda mais felizes, honrados e convictos com nossa instituição, com
nosso trabalho, na certeza de nos empenharmos ao máximo para ofertar ao povo de
santo uma educação de qualidade e uma teologia, antes inexistente. Afinal de
contas, esse processo que a teologia afro-brasileira passa, beneficia as
próprias religiões afro-brasileiras pelo fato de estarem contextualizadas sob
duplo aspecto: em isonomia com as demais confessionalidades e respeito
incondicional à diversidade do povo de santo.
Axé!
Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá
Rivas Neto
(Arhapiagha) – Sacerdote Médico
Publicado: quinta-feira, 10 de janeiro
de 2013