Quando falo de
Umbanda como religião sinto certo conforto e alegria, pois a encontro como um
dos meios usados por Deus e plasmado pelos responsáveis pelos caminhos
religiosos no plano encarnatório, para nos conduzir à nossa finalidade última e
essencial que é o nosso Criador. Basta que se olhe ao redor para sentir como os
seres humanos estão ansiosos e, muitas vezes perdidos, numa inquietação que
muitas vezes os leva a atitudes e a fugas nem sempre dignas, numa busca
contínua de auto-afirmação, de aplausos sobre si mesmos, de exteriorizações que
custam caro face aos desentendimentos e dissensões que levam, a mais e mais, se
sentirem sós e carentes de algo que quase sempre não sabem a explicação.
Santo Agostinho, em seu
livro “Confissões”, chega á conclusão filosófica perfeita ao dizer a Deus:
“Senhor, nos criastes para Ti e nosso coração só encontrará descanso quando
retornarmos a Ti”. Vejo a Umbanda com seus rituais e cultos apenas como mais um
instrumento a ensinar aos homens como realizar esta volta para Deus.
A Umbanda
exteriorizada, com festas e incorporações apenas, não leva ninguém a Deus. Ela
só se torna uma religião quando tudo isto tenha como meta a realização
espiritual. A verdadeira caridade a que a Umbanda se propõe é a implantação,
nas vidas, do “Reino de Deus”, ou seja, do caráter interior de reforma
intima à luz do Evangelho de Jesus. Alguns dizem: - mas os Guias fazem
caridade incorporados, limpam feridas, e outras exterioridades a que muitos
chamam de caridade. Não e não. Estas coisas são exteriorizações, na maioria das
vezes encenadas por médiuns, para que seja visto pela assistência e elogiado
pelos outros, mas não transformam as vidas dos médiuns e dessa própria
assistência, pois, na maioria das vezes fica só nisso, satisfazendo “egos” e
usando o nome da caridade para atos externos.
É Jesus quem diz: “o
que a tua mão direita faz, que a tua esquerda não o saiba”, e os Mentores para
trabalharem não necessitam de encenações externas e sim de médiuns doutrinados,
evangelizados, que levem no escondido e interno de uma consulta, as curas dos
males físicos, mas, principalmente a cura dos males espirituais pela terapia do
evangelho.
É incrível como a
Bíblia Sagrada tem um texto que se encontra no centro da mesma Bíblia, ou seja,
no ponto central que a dividiria ao meio, uma frase que precisamos trabalhar
com ela para não nos decepcionarmos, como fazemos continuamente, face à nossa
confiança mal direcionada. Se buscarmos esse centro, estaremos no Livro dos
Salmos, precisamente no Salmo 118, em seu versículo 8 que diz: “É MELHOR
CONFIAR NO SENHOR DO QUE CONFIAR NO HOMEM”.
Aí está a sabedoria, os
homens nossos irmãos são nossos irmãos, caminhantes conosco para o mesmo fim e
destino, a ilusão da matéria nos remete, face à nossa carência de realização
pessoal, a confiar nos valores humanos em detrimento dos valores divinos e aí,
acabamos sempre dando com os “burros n’água”.
A Umbanda é a religião
do amor, mas do amor de Deus. É a religião da caridade, mas da caridade
evangélica. Tudo o mais é pura vaidade e descaminho dos verdadeiros objetivos e
valores trazidos pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas ao implantar a Umbanda no
Brasil, que ao lado das proibições: não matar, não cobrar, deixou clara a função
de evangelizar.
Seria tão bom que todos
os Umbandistas ao entronizarem a imagem de Jesus nos seus Congares, vissem ali
a imagem do Cristo, “Caminho, Verdade e Vida”, aquele nos pode salvar e dar a
paz. Seria tão bom que essa imagem fosse um convite contínuo à leitura,
meditação e vivência do Evangelho. Seria tão bom que essa imagem fosse o
símbolo do “Divino Oxalá”, ou seja, do Divino Senhor da Luz – “Eu Sou a Luz do
mundo. Quem me segue não anda nas trevas”. Seria tão bom não ser simplesmente
confundido com um dos Sagrados Orixás, aquele do 1º Raio, que cognominado de
Oxalá, recebe, pela vibração da fé e da religiosidade, as energias do coração
desse Cristo Cósmico a serem distribuídas para todos os outros Raios.
Esse é o verdadeiro
culto aos Sagrados Orixás, que não são criações imaginárias e mitologias tão
comuns em determinadas culturas, fruto dos arquétipos individuais e coletivos.
Os Orixás cultuados pela Umbanda são os Senhores do Cosmo, os Agentes Divinos
ou Engenheiros Siderais que comungando com Deus assumem, em Seu Nome, a função
de criar, manter e transformar o universo e, portanto, também o nosso Planeta
em suas diversas dimensões, e mais ainda, são condutores da Vida Divina por
meio das Qualidades ascensionais que reconduzem a humanidade de volta ao seio
Divino.
Cultuar Orixá não é
apenas oferendá-los, mas, muito mais, é se deixar envolver pelas vibrações
sagradas, caminhando pela estrada aberta por eles, em direção ao mais Alto, que
são as Qualidades Divinas a serem exercitadas e vivenciadas.
Falar de Oxalá é falar
da vivência da Fé, da Religiosidade, da Devoção pura e amorosa a Deus. É a
vivência do Mandamento Maior preconizado em todo o Livro Sagrado: “Amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento” (Mat. 22,37). Essa é a Qualidade essencial e função específica do
1º Raio, trazida pelo Orixá Oxalá: levar a todos o caminho desse amor
incondicional e confiante no Deus Amor e Pai.
Banhado nesse amor e
nessa religiosidade vêm os outros Orixás regendo os demais Raios com seus
caminhos teologais: Iemanjá com a geração da vida que deve ser renovada e
recriada constantemente em nós, fechando e abrindo novos ciclos na escada do
aperfeiçoamento. Ogum e Ibeji, com os caminhos da Lei e da luta, da guerra contra
nossos inimigos, que são nossos defeitos e imperfeições. Oxossi e Ossãe, com o
livro da natureza nos apontando os caminhos do conhecimento pelo esclarecimento
maior, pela arte, pela prosperidade (da-nos, hoje, o pão de cada dia). Xangô e
Iansã nos caminhos da Justiça, do equilíbrio e da harmonia. Justiça
misericordiosa e equilíbrio de nossas emoções. Oxum e Oxumare, nos caminhos do
amor, da fraternidade, da relação sadia e equilibrada, purificada das
sensações, sensualidade e paixões ilusórias e aprisionadoras. Obaluayê e Nanã
nos caminhos da purificação e da sabedoria, decantando pelo carma as nossas
vidas, transformando o mal que criamos no bem que existe em nós, como centelhas
divinas. Os caminhos de Obaluayê no 7º Raio são os caminhos da cura física,
como limpeza do mal, e da cura espiritual, despertando-nos, pelo Carma, lei de
causa e efeito, para a grande realidade de nossa essência, que é a busca e o
encontro do Divino.
Esses Raios, regidos
pelos Sagrados Orixás, nos levam à verdadeira caridade e sabedoria para
vivenciarmos o segundo mandamento preceituado por Jesus, e que está
atrelado ao primeiro, que é: “E o segundo mandamento, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mat. 22,39)
Por tudo isso a Umbanda
é religião, pois a sua função primordial é despertar em nosso ser as Leis
Divinas já nelas esculpidas e abafadas pela matéria ilusória, instrumento de
nossa individualização e aperfeiçoamento.
A presença da imagem de
Jesus nos Templos Umbandistas deve ser o sinal e a lembrança, para seus
sacerdotes e médiuns, de que ali estão única e exclusivamente para se unirem ao
“verdadeiro” trabalho dos “verdadeiros” Guias, que é a de apontar o Cristo,
como único capaz de curar, salvar e consolar, fazendo com que todos os que
busquem amparo nesses mesmos Templos possam escutar em seus corações as
palavras do Senhor quando diz no Evangelho: “Vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sob vós o meu jugo, e aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as
vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mat. 11,28-30).
Pai Valdo
(Sacerdote Dirigente do T. E. do Cruzeiro da Luz)