Secretária da Igualdade Racial Chiquinha Pessoa saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José
A festa
foi marcada pelo rito tradicional da casa com arreamento das correntes
espirituais, tambor, valsa e a noitada do monarca guia espiritual da casa. O
festejo é tradicionalmente realizado anualmente e reúne médiuns e simpatizantes
de terreiros de umbanda de outros Municípios e Estados.
Em 2014,
a festa também trabalhou a temática do dia internacional da luta contra a
intolerância religiosa e dia mundial da religião, cuja comemoração fora
antecipado para o dia da presente festa. Também recebeu apoio do Governo
Municipal através de uma ação conjunta entre as Secretarias da Igualdade
Racial, Cultura, Trabalho e Assistência Social com Federação de Umbanda do
Baixo Parnaíba. O projeto visa estender o apoio do governo a todos os terreiros
de matriz africana e umbandista de Chapadinha que estejam devidamente
legalizados perante sua Federação. Essa parceria visa integrar os umbandistas
ao atendimento dos programas sociais, apoio técnico em projetos e eventos
culturais das religiões de matriz africa.
O Rei Dom
Sebastião, como é conhecido e bem descrito no trabalho do Prof. Mundicarmo
Ferrete que é professor, antropólogo e pesquisador UFMA do movimento
Sebastianista no Maranhão diz que,
“D.
Sebastião, filho de D. João e D. Joana e neto de D. João III, nasceu no dia 20
de janeiro de 1554 e logo tornou-se órfão de pai. Este príncipe era o herdeiro
direto do trono e de uma linhagem de reis que demonstravam um profundo sentimento
de coragem para buscar desbravar os territórios que fossem importantes para o
império português. D. Sebastião nascera
no período das Cruzadas e logicamente esperava-se que ele desse continuidade as
invasões e expedições marítimas já iniciadas por seus antecessores. Essas operações tinham como objetivo a aquisição de
novas terras, especiarias e ouro, ou seja, tudo o que pudesse ser importante para a ampliação
do tesouro português. As cruzadas eram ainda, difundidas e ressignificadas como
uma forma de resgatar as almas perdidas pelo mundo e levá-las para o reino de
Deus através da incorporação de novos fiéis ao cristianismo. A base do mito sebastianista é o messianismo
judaico que pressupõe a vinda de um messias em um momento de crise, ou seja,
justamente o que estava acontecendo em Portugal que temia a anexação ao reino
de Castela e os problemas enfrentados pelo Maranhão de cunho político e
econômico.”
(Rayan Santos Dominici, Valquíria Martins. Orientador:
Prof. Dr. Sergio Ferretti in DOM SEBASTIÃO: DO MITO PORTUGUES A ADORAÇÃO
MARANHENSE)
Em sua visita a Tenda Espirita Rei Dom Sebastião
FERRETE até o momento não havia visto uma manifestação do espírito do rei
sentiu-se honrado pela beleza do rito e da festa, em entrevista ao Sr. Eduvaldo Fernande organizador da festa em 2012,
assim
descreve:
A Tenda de Umbanda Rei Dom
Sebastião, localizada no bairro do Campo Velho na cidade de Chapadinha, foi
fundada em 1986 pelo Babalorixá Antônio José Silva (62 anos) hoje, presidente
da Federação Umbandista do Baixo Parnaíba e professor do magistério na Escola
Paulo Ramos.
Nos dias 18, 19 e 20 de janeiro
ocorreram as festividades em homenagem a Oxóssi e ao guia espiritual da casa o
Rei Dom Sebastião. Fomos com os professores Sergio e Mundicarmo Ferretti e com
Jandyr Gonçalvez, técnico da SECMA, assistir aos rituais deste terreiro na
cidade de Chapadinha, localizada a cerca de 200 kms de São Luís.
Conforme o programa das
festividades, no dia 18 houve o arreamento das correntes espirituais e a
comemoração dos 26 anos de fundação da casa, no dia 19 a Tenda promoveu um
momento de curas e bênçãos num ritual intitulado “Noitada á Oxóssi” (São
Sebastião).
Para o dia 20 estava programada
“recepção e homenagem ao Rei Sebastião que desta vez se apresentaria
materializado”. Chegamos à cidade no dia 20 de janeiro, por volta d as 13:00
horas, e logo nos dirigimos á Tenda onde fomos recebidos pelo Sr. Eduvaldo
Fernandes, responsável pela organização da festa, que estava proferindo instruções
aos participantes de como deveria ocorrer a “materialização” de Dom Sebastião e
de como estes deveriam se portar diante da presença do nobre.
O Sr. Eduvaldo no disse ainda,
que Dom Sebastião teria baixado na última festa consagrada ao Caboclo da Mata
em 2010, prevendo que o ano de 2012 seria destinado á Oxalá e por isso, um ano muito bom, “o ano do
pai que abraça o filho” segundo suas palavras. O Rei demonstrara também, seu
desejo de se materializar, pois anteriormente baixava, mas costumava ficar no
máximo dez minutos e falar pouco, abençoando apenas os fieis que se dirigiam a
ele em fila. Agora, pretenderia ir aos devotos e conversar com eles, tendo
cerca de duas horas para tal. Essa materialização teria como peculiaridade o
fato da entidade poder desfrutar dos sentidos e sensações humanas podendo comer
e beber durante o ritual, fato que não acontece com as outras ocasiões, pois
durante o período de transe o médium não costuma alimentar-se ou ir ao
banheiro.
Após essa conversa, conhecemos a
estrutura da Tenda que apresentava um grande salão enfeitado com tiras de
tecido branco no teto com uma vela no
meio. Tendo do lado direito uma imagem de Dom Sebastião posta sobre uma mesa
ornamentada para o mesmo com velas,
flores, bebidas e um bolo.
Do lado esquerdo, observamos um
grande painel com a foto do Babalorixá Antônio José em frente ao altar principal.
Do mesmo lado, havia um cômodo onde ficavam os tambores, sua parede do fundo
tinha uma pintura com as cores da Umbanda e a parede lateral direita uma
pintura feita por um artista de nome Leandro, freqüentador da casa. Ao fundo do
salão havia dois altares e uma gruta no canto direito cujas pedras teriam sido
trazidas nas costas do Babalorixá de uma antiga aldeia próxima. O altar principal
era dividido em três prateleiras que apresentavam respectivamente imagens de
Jesus Cristo (Oxalá), São Sebastião (Oxóssi) e Preto Velho. No altar secundário
estavam imagens de São João, São Jorge e os gêmeos Cosme e Damião.
Na gruta, que ficava no canto
direito do salão havia imagens de Xangô, Santa Bárbara e Iemanjá (sob um
pequeno reservatório de água). Posteriormente, conhecemos a Casa do Caboclo da
Mata, um cômodo ricamente decorado no andar superior do terreiro. As paredes estavam
pintadas de verde, sendo que a principal apresentava uma pintura do Caboclo em
meio à natureza tendo de um lado a bandeira da Umbanda e do outro a bandeira da
Tenda do rei Sebastião. Nesse ambiente, havia cadeiras e um sofá dispostos ao
redor de uma poltrona central pertencente ao Caboclo para que ele pudesse
conversar e aconselhar seus devotos. Vale destacar, que esse ambiente era climatizado
e possuía uma geladeira com várias caixas de cerveja, devido o gosto da
entidade por bebidas e cigarro, além de uma pedra no canto da sala denominada
de ponto de firmeza.
Segundo o professor Ferretti o
encantado vem em direção ao ponto de firmeza que apresenta uma forte energia e
de lá reflete para o médium. Depois da Casa do Caboclo da Mata, nos foi
apresentada a Casa da Pomba Gira que ficava na parte térrea da Tenda e
apresentava uma grande estátua com a figura de uma mulher guerreira com os
seios á mostra e uma capa vermelha nas costas, ao redor desse altar havia jarros,
flores e uma vela vermelha acesa na frente da imagem, no canto direito outro
ponto de firmeza. As paredes desse ambiente estavam pintadas com um tom pêssego
tendo em um dos cantos uma mesa cheia de taças e bebidas como vodca e cachaça. Além
dos locais já mencionados observamos também uma espécie de anexo no terreiro
onde, segundo o líder espiritual da casa, ficavam hospedados romeiros e pessoas
que vinham de cidades distantes em busca de tratamento espiritual.
Ao fim desse primeiro contato, os
presentes se dirigiram para o almoço em uma grande cozinha localizada no centro
da Tenda. À noite, retornamos a Tenda de Umbanda Rei Dom Sebastião por volta
das vinte horas. Logo na entrada, iluminada por tochas, percebemos o capricho
na decoração que apresentava um grande tapete vermelho que se estendia da porta
ao centro do salão, além de vários paetês dourados e grãos de arroz espalhados pelo
chão representando prosperidade.
O Babalorixá Antônio José veio
nos receber e fomos acomodados em cadeiras de frente para o altar juntamente
com os demais participantes que compreendiam: homens, mulheres, crianças, idosos
e pessoas oriundas de diversas cidades do interior maranhense além de uma jovem
albina. Nos últimos preparativos para o início do ritual foram espalhadas gotas
de perfumes de rosas pelos cantos da Tenda. As filhas-de-santo estavam
posicionadas do lado esquerdo ao altar, vestidas com roupa e saias rodadas
brancas e os filhos-de-santo do lado direito com roupas em tons claros.
O ritual foi iniciado com o Hino
da Umbanda, tendo o Sr. Eduvaldo como uma espécie de mestre de cerimônia que
teria sido escolhido pelo próprio Dom Sebastião. Sua explanação se deu de modo
a orientar os presentes sobre essa inédita materialização do Rei informando que
o mesmo gostaria de ser chamado de “Senhor Rei de...” e que Oxalá o teria
liberado para ir ao encontro de seus devotos. Informou ainda, que havia toda
uma preparação para a recepção do nobre como, por exemplo, a presença de cavaleiros
e pessoas para servi-lo, além da presença da rainha, também escolhida por Dom
Sebastião, D. Júlia. Falou-se também, sobre a doutrina da Umbanda e de sua
fundação no dia 15 de novembro de 1908 num período em que o Brasil estava
passando por um contexto de fim da escravidão e início da República, ou seja,
grandes transformações no cenário nacional.
Confira as fotos do evento:
Secretária de Educação Profª Maria Coelho saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José
Secretária do Trabalho Zezinho Lima saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José
Secretária Adjunta de Cultura Leandra Lima saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José
Sargento Nonato saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José
Secretário de Assistência Social Francisco Paiva saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José
Diretor de Igualdade Racial Manoel Almeida, Babalorixá Antonio José e Sargento Nonato
Gestor do Programa Bolsa Família Pedro Cunha saudando o Rei Sebastião manifestado no Babalorixá Antonio José